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Sob os efeitos do documentário Ligue Djá, o lendário Walter Mercado, lançado pela Netflix em 2020, este simpósio tem como objetivo discutir, a partir de diferentes abordagens teórico-metodológicas, a complexidade midiática do porto-riquenho Walter Mercado (1932-2019), figura hiperbólica dos anos 1970-1980 nas Américas. Entre as provocações acionadas por sua presença midiática, interessa discutir: midiatização do esoterismo, misticismo, astrologia e espiritualidade; genderbending do corpo andrógino; envelhecimento como quimera a ser vencida e a iconofagia como elixir da imortalidade; produção, circulação e consumo de audiovisualidades em contextos massivos e digitais; transmissão de memória por arquivo; performances em suas múltiplas acepções; estéticas pop latino-americanas; discussões sobre camp e queer/cuir; latinidades diaspóricas formatadas para exportação Sul-Sul e Sul-Norte; tensões entre um orientalismo camp e o neoliberalismo; entre outras provocações. 

Astrólogo e personalidade da TV, Mercado foi um bem-sucedido empresário de um empreendedorismo espiritual global que, segundo Tace Hedrick (2013), mobilizou uma “sabiduría oriental”, combinação de astrologia, reencarnação e conhecimento tântrico em uma versão que a autora chama de “orientalismo queer”. O astrólogo emerge em uma América Latina na qual, desde a metade do século XIX, passam a transitar conhecimentos orientais em fricção com práticas espirituais locais bastardas do espiritismo kardecista, catolicismo caribenho e santería afro-caribenha, culminando, na “comodificação espiritual transnacional” dos anos 1980 e a ascensão New Age, em Porto Rico. Mercado, então, constrói um “capital espiritual” (HEDRICK, 2013)  que lhe dá acesso a consumidores com aspirações espirituais, de estilo e ávidos por ascensão socioeconômica, interessados em seu “queer transcendental” que articula sagrado, místico e sofisticação tanto quanto camp e kitsch. Performatiza, assim, o que Diana Taylor (2013) chamou de “espaço psíquico latino-americano”.

Sua imagem, que declarava ter espelhado de um príncipe da Índia - uma Índia que não é um país ou uma cultura, mas uma terra mágica imaginada -, era alvo de especulações da imprensa por sua ambiguidade performativa, uma androginia que ele reclamava para si como efeito de sua transcendência oriental ao combinar yin e yang, masculino e feminino, e uma sexualidade cósmica, alcançada por orgasmos tântricos acionadores de um discurso neo-tântrico. Esse modo de produção de si borroso, que se afirma vigoroso e, ao mesmo tempo, joga sobre si um véu de misticismo exótico, sinaliza para discussões de um queer latino-americano tensionado a trânsitos espirituais e marcadores locais de classe, raça, gênero, sexualidade e, inclusive, geográficos, pois, como afirma Hedrick (2013), é ardilosa a entrada dessa figura queer em lares tradicionais latino-americanos. São bem-vindos, então, aportes teóricos de autores como José Fernando Serrano-Amaya (2006), Paco Vidarte (2019), José Esteban Muñoz (1999), Judith Butler (2003) e Paul B. Preciado (2008).

Há ainda espaço para discussões sobre estratégias mercadológicas vinculadas a uma latinidade presumida, acionando valores tradicionais e neoliberais de bem viver, triunfo, sucesso e ascensão socioeconômica. Atributos desejados por uma classe média latino-americana em ascensão assim como por classes populares e de novos ricos desejos por ostentar ideais modernos de sofisticação e bom gosto. Essas, de acordo com Hedrick (2013), viam em Mercado um homem viajado, culto, com bom gosto e capaz de articular crenças espirituais de um sudeste asiático esotérico e exótico.

No âmbito das materialidades da comunicação e sua produção de presença (GUMBRECHT, 2010), autores como Edgar Morin (1957) e Norval Baitello Junior (2014) contribuem para se pensar os fluxos de imagens da persona midiática de Walter Mercado e seu consumo em contextos de tecnologias de funções massivas e digitais. Estas últimas, inclusive, facilitadoras de processos de remediação (GRUSIN; BOLTER, 1999) responsáveis por alimentar culturas de fãs e memificação.

Espera-se que os trabalhos contribuam para uma cartografia de Walter Mercado enquanto um fenômeno midiático latino-americano complexo e estilhaçado, que atravessa diferentes décadas e distintos contextos socioculturais e comunicacionais. Desse modo, convidamos à submissão de propostas que abordem os seguintes eixos temáticos, individualmente ou relacionados, tendo como objeto a persona e a performance midiática de Walter Mercado:

 

  1. questões e reflexões sobre gênero, sexualidades, androginia queer, queer latino, debates identitários e pós-identitários;

  2. relações entre esoterismo, misticismo, astrologia e espiritualidade na cultura pop;

  3. questões geracionais e problematizações sobre ageless e envelhecimento midiático;

  4. estética pop latino-americana para exportação e traços residuais do american way of life;

  5. latinidade como negócio, dinâmicas empreendedoras e autoajuda midiatizada;

  6. fluxos diaspóricos e trânsitos territoriais, culturais e midiáticos;

  7. regimes midiáticos, celebrização, cultura de fãs e memificação;

  8. testemunho e construção de vínculos afetuais com audiências;

  9. memória audiovisual e processos iconofágicos;

  10. elementos biográficos, autofagia e apagamento de si na trajetória de Walter Mercado;

  11. artifício e mitificação da persona midiática;

  12. ethos midiático e construção de si

  13. transmidialidades, remediações e remixes;

  14. discussões sobre moda, figurino e cenarização do cotidiano olimpiano.

 

O prazo para envio dos resumos expandidos vai até o dia 15 de fevereiro de 2021 através do e-mail juvenalia.espm@gmail.com.

 

REFERÊNCIAS

AMARAL, A.; CARLOS, G. Fandoms, objetos e materialidades: apontamentos iniciais para pensar os fandoms na cultura digital. In: FELINTO, E.; MÜLLER, A.; MAIA, A. (orgs.). A vida secreta dos objetos: ecologias da mídia. Azougue, 2016. p. 28-42.

 

BAITELLO JUNIOR, N. A era da iconofagia: reflexões sobre imagem, comunicação, mídia e cultura. Paulus, 2014.

 

BEZERRA, A.A.; BRACCHI, D.N.; MORAES, F.; LIMA SILVA, A.D. Corpo e figurino na construção da imagem de Michelle Melo. Estudos semióticos, v. 12, n. 1, p. 36-41, 2016.

 

BOLTER, J. D.; GRUSIN, R. Remediation: understanding new media. MIT Press, 1999.

 

BUTLER, J. Problema de gênero: feminismo e subversão da identidade. Civilização Brasileira, 2003.

 

CARRASCOZA, J.; ROCHA, R. M. Consumo midiático e culturas da convergência. Miró Editorial, 2011.

 

CASTELLANO, M. Vencedores e fracassados, o imperativo do sucesso na cultura da autoajuda. Appris, 2018.

 

DRAVET, F. Entrever no (in)visível: imaginação, comunicação oracular e potência criativa. E-compós, v. 22, p. 1-20, 2019.

 

ESTEBAN MUÑOZ, J. Disidentifications: queers of color and the performance of politics. University of Minnesota Press, 1999.

 

GUMBRECHT, H. Produção de presença: o que o sentido não consegue transmitir. Contraponto; Editora PUC-Rio, 2010.

 

HEDRICK, T. Neoliberalism and orientalism in Puerto Rico: Walter Mercado’s queer spiritual capital. Centro Journal, v. 25, n. 1, 2013.

 

MORIN, M. As estrelas: mito e sedução no cinema. José Olympio Editora, 1989.

 

PEREIRA, P. P. G. Queer nos trópicos: quando as teorias viajam. Contemporânea, v. 5, n. 2, p. 411-437, 2015.

 

PRECIADO, P. B. Testo junkie: sexo, drogas e biopolítica na era farmacopornográfica. n-1, 2008.

 

ROCHA,R. M.; SILVA, J. C.; PEREIRA, S. L. Imaginários de uma outra diáspora: consumo, urbanidade e acontecimentos pós-periféricos. Galáxia, n. 30, p. 99-111, 2015.

 

RODRÍGUEZ, J. M. Queer latinidad: identity practices, discursive spaces. NYU Press, 2003.

 

SCHECHNER, R. Performance studies: an introduction. 3. ed. Routledge, 2013.

 

SERRANO-AMAYA, J. F. Otros cuerpos, otras sexualidades. Pontificia Universidad Javeriana, 2006.

 

SOARES, T. Lady Gaga em Cuba. Reinvenção comunicacional da política: modos de habitar e desabitar o século XXI. EDUFBA; Compós, 2016. p. 85-96.

 

TAYLOR, D. O arquivo e o repertório: performance e memória cultural nas Américas. Editora UFMG, 2013.

 

VIDARTE, P. Ética bixa: proclamações libertárias para uma militância LGBTQ. n-1, 2009.

 

NORMAS PARA SUBMISSÃO

Resumo expandido, entre 4 mil e 5 mil caracteres (com espaço), sem incluir referências bibliográficas, em português ou espanhol, contendo:

 

*nome dos autores;

*filiação institucional;

*titulação;

*e-mail para contato;

*corpo do trabalho: introdução ao tema, problema/abordagem de pesquisa, contextualização teórico-metodológica, considerações finais e referências bibliográficas (ABNT).

 

Serão aceitos trabalhos de doutores, doutorandos, mestres e mestrandos com, no máximo, 3 autores por proposta. Cada pesquisador pode submeter um único trabalho, seja como autor ou coautor, indistintamente. Os resumos expandidos serão publicados nos anais do evento e os interessados poderão submeter a versão completa do trabalho, após apresentação no seminário, para publicação em e-book.

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15-16 | 04 | 2021

on-line

comitê científico

  1. Prof. Dr. Alberto Carlos Augusto Klein (UEL) | CV Lattes

  2. Ariel Nobre | Instagram

  3. Prof. Dr. Icaro Ferraz Vidal Junior (UNIFESP) | CV Lattes

  4. Profa. Dra. Luciana Xavier de Oliveira (UFABC) | CV Lattes

  5. Prof. Dr. Luiz Morando (UNIBH) | CV Lattes

  6. Profa. Dra. Milene Migliano (ESPM-SP) | CV Lattes

  7. Prof. Dr. Rogelio Marcial Vázquez (Universidade de Guadalajara) | Schoolar

  8. Profa. Dra. Simone Luci Pereira (UNIP) | CV Lattes

  9. Prof. Dr. Thiago Soares (UFPE) | CV Lattes

  10. Ms. Thi Gresa (Juvenália) | Instagram

Rose de Melo Rocha

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Cientista da comunicação e professora universitária, é titular do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Consumo (PPGCOM-ESPM). Lidera o grupo de pesquisa CNPq Juvenália, discutindo culturas juvenis, questões estéticas, raciais e de gênero. É uma das fundadoras do GT CLACSO Infancias y Juventudes, compondo atualmente a Coordenação Ampliada e a Equipe de Comunicação. É bolsista produtividade em pesquisa do CNPq, estudando os artivismos musicais de gênero na cidade de São Paulo. Doutora em Ciências da Comunicação (USP), fez estágio pós-doutoral em Antropologia (PUCSP). Desenvolve atualmente seu segundo estágio pós-doutoral em Ciencias Sociales, Niñez y Juventud (CLACSO), estudando o protagonismo e as políticas de audiovisibilidade de Jup do Bairro e Linn da Quebrada.

Thiago Rizan

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Mestre em Comunicação e Práticas de Consumo (ESPM-SP, bolsista Capes), especialista em Jornalismo Cultural (PUC-SP) e jornalista. Membro do grupo de pesquisa CNPq Juvenália. Tem pesquisas investigando a produção de conteúdo autoral da nova geração de drag queens brasileiras e a memória audiovisual da performer bizarra chilena Hija de Perra (1980-2014). Pesquisa as relações entre comunicação, consumo e imagens dissidentes.

organização

promoção

GP CNPq Juvenália

O grupo de pesquisa CNPq Juvenália: questões estéticas, geracionais, raciais e de gênero na comunicação e no consumo, constituído em março de 2015, é coordenado pela Profa. Dra. Rose de Melo Rocha e tem caráter interinstitucional e transdisciplinar. Em sua agenda, temos discussões de temas, pesquisas e autores de ponta nacionais e internacionais, com ênfase nas áreas da comunicação, dos ativimos, da política, da estética, do entretenimento e do consumo. Atualmente, os pesquisadores do grupo se articulam em torno de seus projetos individuais de pesquisa ou de seus interesses de investigação, sempre convergindo para as intersecções entre questões estéticas, geracionais, raciais e de gênero. O projeto de pesquisa da líder do grupo, intitulado Artivismo musical de gênero em São Paulo: dinâmicas de comunicação, contextos de consumo, políticas de apresentação e audiovisibilidade em um pop encarnado e translocal, agrega diretamente seus orientandes ou supervisonades de pós-doc. Também mantemos relações de cooperação com a rede internacional de pesquisa do GT Infancias y Juventudes da CLACSO. O Juvenália realiza encontros temáticos mensais, articulados em 2020 em torno do eixo Políticas de audiovisiblidade, grupo de estudos, conversatórios e minicursos, também regularmente divulgados em sua página no Facebook e no seu Instagram.

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